Sunday, August 17, 2008

O Acaso

Sua criação fora esmerada... Era forte para resistir às intempéries. Ele estava pronto.

Numa bela tarde de sol ele foi avistado. Pela vidraça, o namoro começou.

Ele era perfeito, na cor, no conforto... Seria seu companheiro constante naqueles momentos difíceis, mas que para sua saúde era muito importante.

Ia na bolsa, e lá, juntos, pedalavam, caminhavam, corriam... E novamente na bolsa.

“O que existiria no trajeto em que ficava na bolsa? Será que verei novamente a luz do sol? Ele me aquecia na vidraça, e eu gostava disso. Agora só conheço a luz artificial da academia.” – Pensou tristemente.

Hoje irás comigo, mas não na bolsa, sairemos juntos e faremos todo o percurso do meu dia.

“Parece incrível! Vou sair, caminhar, rever o sol.” – Pensou novamente.

Caminharam até o ônibus.

“Como é confortável !“ - Pensou ela.

Pegaram o ônibus, 40 minutos sentados e ele ali, radiante por finalmente estar trabalhando de verdade.

Ao chegar no final do percurso, subiram a lomba um pouco íngreme e de areão, algo que para ele era desconhecido.

Chegaram e deu-se início a mais uma tarde.

Ouviu uma voz:

- Sôra, hoje é dia da horta.

“Horta! O que será isso? Algo novo para conhecer e me encantar!” – Pensou.

Na horta ele não parou, andou de um lado para outro, apertou a terra fofa para ajudar a prender os tijolos que formam os canteiros.

“Que barulho é este? Por que estamos descendo a lomba? Quero voltar aqui amanhã, e depois... O que está acontecendo comigo? Estou me sentindo diferente, meio solto, será que estou ficando doente? Estarei terminado?! Não! Ela achará um jeito de me ajudar.” – Indagou a si mesmo.

Mas a mulher triste pensou, “conseguirei chegar até em casa?”

Desceram do ônibus e atravessaram à avenida, meia quadra e a mulher não conseguia mais levantar o pé pois poderia tropeçar em si mesmo e acabar caindo.

Arrastando-os seguiu seu caminho por mais uma quadra, ao chegar na esquina de sua rua, a mulher constatou, com vergonha e certa tristeza, que o solado já não existia mais. Chegou em casa apenas com a palmilha. E ele totalmente sem utilidade, foi parar no saco... No saco de lixo.

O tênis não deveria nunca ter saído da sua zona de conforto.

Muitas vezes pensamos que o desconhecido é bom para nós, e constatamos quase sempre o contrário.

Muitas vezes pensamos ter uma resistência que não possuímos, e nos atrevemos a ir mais longe, às vezes num lugar sem volta... Controle suas amizades e os lugares por ande andam...

(Malu)



No comments: